Itacoatiara (AM) – Transformar os resíduos orgânicos e florestais, antes ignorados ou descartados, em produtos de valor no mercado, e que contribuem para manter a floresta em pé, são os propósitos do ecossistema de inovação das startups Manoa Bio e Coroa Bio. Criadas no município de Itacoatiara (distante a 176 km de Manaus), o terceiro maior polo de pequenos negócios no Amazonas, segundo dados do Sebrae, com 5.920 empreendimentos ativos, ficando atrás de Manaus e Parintins, as empresas se destacam por serem modelos inovadores de negócio voltado para bioeconomia e por unirem os conceitos de sustentabilidade, inovação e criatividade.
As startups transformam os resíduos em soluções inovadoras como é exemplo da Manoa Bio, que possui uma linha exclusiva de objetos utilitários e decorativos. Com design único e traços amazônicos, a empresa utiliza pedaços de madeira, resíduos do manejo florestal comunitário e sobras das serrarias locais, na produção de peças funcionais e com rastreabilidade como: petisqueira, descanso de xícara e tábuas de churrasco, gerando renda local e valorizando saberes comunitários.

Elias relata que a empresa trabalha na inteligência da cadeia, no respeito ao tempo da floresta e na capacitação das comunidades locais dando valor ao que seria descartado.
“Queremos promover esse reaproveitamento como algo que vai fortalecer não só o meio ambiente, mas também as comunidades com madeira de manejo florestal comunitário. O que fazemos aqui é mostrar que a floresta pode ser competitiva com o campo. Se o produto da floresta é bem aproveitado, bem desenhado e bem posicionado, ele não precisa destruir nada para gerar renda”, disse Elias.

Criada em setembro de 2024, foi aceita no mesmo ano na incubadora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a INUEA, que apoia startups com infraestrutura compartilhada, mentoria, na organização de ideias, alinhamento de propósitos, além de cooperar para o lançamento dos produtos iniciais. Ao longo do primeiro ano, a startup testou seus Most Valuable Player (MVPs) produtos mínimos viáveis em dois canais: vendas diretas (Business to Consumer B2C) e vendas para empresas (business to business B2B).
“Estar na incubadora dá mais tranquilidade para poder organizar as ideias, pensar em estratégias e poder focar, de fato, num produto e num serviço que a gente está vendendo”, explicou Elias Lourenço.
A Manoa Bio conseguiu feedbacks positivos, encomendas vindas de fora do estado e uma parceria estratégica com uma a empresa do setor madeireiro, Mil Madeiras Preciosas que é uma filial do grupo suíço Precious Woods em Itacoatiara. Atualmente, cinco pessoas fazem parte da startup, são professores e alunas da UEA, e empreendedores locais.
De olho na COP30
Com o crescimento da bioeconomia e do desenvolvimento do empreendedorismo sustentável, a Manoa tem planos de participar da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30).
“Queremos aproveitar essa visibilidade do Norte para poder participar e revelar a startup como uma solução importante para o nosso estado, especialmente dentro desse contexto da renovação, ou da atualização da matriz econômica”, finalizou.

Coroa: insumos orgânicos e reflorestamento
O desenvolvimento de insumos orgânicos que facilitam e reduzem o custo do reflorestamento é o objetivo da startup Coroa Bio, também incubada na UEA. A ideia surgiu em 2018 durante observações do efeito da matéria orgânica sobre o crescimento de mudas em campo e tomou forma após um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma aluna da UEA. Ganhou força em 2023, quando recebeu um aporte de R$ 60 mil pela SinapseBio, um programa desenhado para catalisar a inovação em prol da preservação da Amazônia.
A Coroa Bio desenvolveu um protótipo de cobertor orgânico da Amazônia, atualmente em fase de testes de campo. Os resíduos que alimentam a produção viriam, de outro modo, parar em lixões ou aterros.

O insumo orgânico criado pela Coroa Bio aproveita resíduos que, de outra forma, seriam descartados em aterros ou lixões, prolongando a vida útil dessas áreas. Além disso, promovem o plantio de árvore ao vender um insumo que facilita e reduz os custos de reflorestamento.
“Nosso foco é usar resíduos orgânicos que seriam descartados para produzir um insumo que protege o solo e estimula o crescimento de árvores nativas”, comentou Victor Hardt.
Primeira incubadora do interior do Estado
Jady Ferreira, gerente do Sebrae de Itacoatiara, destacou que o município está crescendo em relação ao empreendedorismo, e com a parceira da incubadora da UEA tem amplificado os eventos de inovação e empreendedorismo.
“Hoje nós temos mais de 2 mil Micro Empreendedores Individuais (MEI) formalizados, e temos essa parceria com a UEA no evento de inovação e empreendedorismo trabalhando dentro do município várias estratégias para apoiar na regularização, capacitação, consultorias para melhorar o layout, fachada desses empreendedores no município”, destacou Jady Ferreira.
Segundo Jady, empresários chegam em busca de conhecimento e orientação para montar ou melhorar seus empreendimentos. Na semana passada, foi realizado uma imersão de vendas com mais de 70 empresários, que participaram de aulas sobre como vender mais e melhor e como se posicionar no mercado. Para o Sebrae, é muito importante, apoiar a geração de receita e renda no município.
“As pessoas empreendendo mais se tornam mais independentes, deixando de receber auxílios para ter seu próprio negócio, empreender, crescer e melhorar a sua vida e a vida da sua família”, finalizou.
A professora Deolinda Ferreira da UEA salientou que Itacoatiara teve a primeira Incubadora do interior do Estado, e que o munícipio conta atualmente duas incubadoras: da UEA e do Instituto Federal do Amazonas (Ifam).
A INUEA vem desenvolvendo várias ações para ampliar o empreendedorismo inovador no município. Inclusive uma das estratégias de sensibilizar a população é a realização do Inova Itacoatiara, nos dias 6 a 9 de junho. A Incubadora tem vários negócios voltados para bioeconomia.
Além disso, a Incubadora conta com o apoio do Sebrae com oferta de cursos, mentorias, projetos de extensão nas escolas a partir do 9º ano, o que tem unido forças para ampliar os números de startups.
“Hoje já estamos colhendo frutos desse trabalho com mais ideias na pré-incubação. Realmente tudo que está sendo feito trará muitas oportunidades aos itacoatiarenses para que consigam ter oportunidade de emprego, gerar renda e melhorar qualidade de vida”, disse.
Números do empreendedorismo em Itacoatiara
Números do empreendedorismo no Amazonas