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Cotidiano

Redes Sociais: como os ‘feeds’ capturam nossa atenção e bagunçam nossa mente

Entenda como as redes sociais manipulam seu tempo, afetam a saúde mental e criam dependência através de algoritmos, dopamina e comparação social.

Redes Sociais: como os 'feeds' capturam nossa atenção e bagunçam nossa mente
(Foto: Gerada por IA)

Manaus (AM) – O Brasil chegou à era digital ainda lidando com os efeitos da redemocratização, sem base sólida em educação ou cultura crítica. Sem tempo para compreender o impacto da tecnologia, mergulhou de cabeça num ambiente onde tempo e atenção viraram mercadoria. As redes sociais não só reorganizaram a forma como nos comunicamos, mas também passaram a interferir diretamente na maneira como percebemos o presente.

Em entrevista à Agência Jamaxi, a psicóloga Andreia Vale, especialista em Psicologia Jurídica e Criminologia Clínica, alerta que um dos maiores efeitos das redes sociais está na forma como elas reorganizam nossa percepção do tempo. Essa alteração não é apenas uma questão de ritmo ou rotina: trata-se de uma mudança estrutural na forma como experimentamos o agora.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Tempo, atenção e lucro: o tripé da armadilha digital

Apoiada nas pesquisas da socióloga britânica Rebecca Coleman, Andreia explica que vivemos hoje entre três tipos de “agora”: o tempo real, marcado por notificações que exigem resposta imediata; o tempo alongado, sustentado pela rolagem infinita em busca de atualizações; e o tempo eliminado, quando usamos o digital apenas para “matar o tempo”.

“Esses ‘agoras’ distorcem nossa organização interna. Vivemos como se estivéssemos sempre atrasados, sempre devendo atenção a alguma coisa.”

Ela destaca que essa compressão temporal contribui para um estado constante de aceleração e estresse, afetando diretamente a saúde mental. “Estamos tão acostumados a fazer várias coisas ao mesmo tempo que perdemos a noção do presente. Criamos a ilusão de que estamos atualizados, mas na verdade estamos só tentando acompanhar um ciclo que nunca para.”

Dopamina e o vício disfarçado de interação

Andreia aponta que as redes sociais se valem de mecanismos neurológicos que envolvem dopamina, neurotransmissor associado à recompensa e ao prazer. Cada curtida, comentário ou notificação estimula essa sensação e isso pode nos manter presos a um ciclo de busca por aprovação digital.

“Mesmo quando o conteúdo nos faz mal, seguimos consumindo porque fomos condicionados a buscar aquele estímulo.”

Ela também menciona a influência de sentimentos como o FOMO (medo de perder algo importante), o desejo de pertencimento e a validação social como fatores que alimentam o consumo excessivo de conteúdo. “As pessoas querem sentir que estão conectadas, que fazem parte de algo. Mesmo quando esse conteúdo não é saudável, ele cria um senso de identidade e pertencimento.”

Quando o uso das redes sociais sai do controle

Segundo a psicóloga, há sinais claros de que a relação com as redes pode estar desequilibrada. Entre eles, estão o nervosismo ao ficar sem acesso à internet, checar notificações assim que acorda ou antes de dormir, e o desconforto ao não receber curtidas ou visualizações esperadas.

“O uso compulsivo se revela quando a pessoa sente-se inquieta sem o celular, usa as redes caminhando ou dirigindo, ou quando acredita que a vida dos outros é melhor do que a sua por causa do que vê nas redes.”

Ela reforça que esses comportamentos não devem ser normalizados. Ainda que o uso das plataformas digitais faça parte da rotina, é preciso observar a intensidade e os impactos. “A rede social pode se tornar uma vitrine emocional onde mostramos o que queremos e consumimos a imagem controlada da vida alheia, escondendo nossas próprias fragilidades.”

Como retomar o controle

Para Andreia Vale, recuperar o equilíbrio exige consciência e ação prática. Ela recomenda estabelecer limites de tempo, utilizar ferramentas para silenciar notificações, buscar atividades fora do ambiente digital e, principalmente, reconectar-se com o mundo real.

“Reavaliar as relações que mantemos nas redes, praticar atividades físicas, buscar contato humano e até redescobrir prazeres analógicos, como ler ou caminhar sem o celular, são formas de reconstruir o equilíbrio.”

Ela também aponta que, em casos mais graves, é importante considerar o apoio profissional: “Quando a pessoa reconhece que perdeu o controle, procurar ajuda psicológica não é fraqueza, é uma decisão madura”.

Reflexão necessária

A forma como lidamos com as redes sociais talvez diga mais sobre o nosso tempo do que sobre a tecnologia em si. Não há resposta definitiva, nem receita simples. Mas os relatos de desconforto, ansiedade e esgotamento indicam que há algo fora do eixo.

Para Andreia, o caminho está no equilíbrio: estabelecer limites, reconhecer os próprios gatilhos e resgatar o controle sobre o tempo.

Talvez não se trate de abandonar as redes, mas de olhar para elas com mais consciência. E, quem sabe, reconhecer que nem tudo que conecta, aproxima e nem tudo que engaja, acolhe.

“Você é mais do que seu número de seguidores. Use as redes sociais para elevar e inspirar, e não para se comparar ou se sentir mal.”

 

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