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Vencer o Hamas deve ser o meio e não o fim

Uma visão alternativa da guerra e seus objetivos

Vencer o Hamas deve ser o meio e não o fim
Foto: Divulgação

A guerra de seis dias entre Israel e todos os países árabes é considerada o maior feito militar de sua história, enquanto a Guerra do Yom Kipur de 1973, quando Síria e Egito conseguiram surpreender Israel no seu dia mais sagrado, era considerada o maior fracasso. Isso, até 07 de outubro quando o Hamas realizou ataques surpresa ao sul de Israel.

Eu discordo parcialmente desta análise, e acredito que esse desacordo é fundamental para Israel sair vencedor da crise atual. É comum olharmos o conflito militar do ponto de vista do seu início ou até mesmo do final do confronto em si. Por exemplo, na Guerra dos Seis Dias, Israel neutralizou de imediato as forças aéreas de seus inimigos, mantendo uma superioridade área, ao mesmo tempo em que ganhou território no norte, no sul, no leste e no oeste.

Em contraste, há a humilhação da surpresa do Yom Kipur e dos atuais ataques do Hamas, onde o senso de superioridade muda instantaneamente para o choque, medo, raiva, decepção, preocupação e lágrimas pelo sangue derramado com o consenso de que nada disso poderia ter acontecido, e jamais poderá se repetir.

Porém, devemos lembrar que conflitos militares funcionam como meio para atingir algum objetivo político, e que este, do Hamas, só poderá ser analisado anos depois de seu término. Veja os Estados Unidos, que se tornou uma superpotência mundial ao vencer militarmente como primeira potência nuclear, mas também porque tornou seus maiores inimigos em potências econômicas, Japão e Alemanha, seus maiores aliados.

O resultado da Segunda Guerra do Líbano, entre Hezbollah e Israel, trouxe um relativo silêncio por quase vinte anos. A Guerra do Yom Kipur levou o presidente do Egito, Anwar El-Sadat, a entrar em negociações de paz, que, por fim, foram assinadas em 1979, e ao meu ver tornou Yom Kipur no maior sucesso militar de sua história, contradizendo narrativas.

Em contraste, a Guerra dos Seis Dias foi tão humilhante para os Árabes que talvez de sua perspectiva eles precisavam tentar novamente para trazer orgulho para seus povos, tomar os territórios conquistados, e com muita sorte apagar Israel do mapa. O resultado geral é que Israel ficou soberbo, além de dominar o território do que então se tornaria o povo palestino, abrindo espaço para a tal narrativa do Apartheid.

O governo de Israel definiu o objetivo militar desta guerra (2023): “a destruição da capacidade militar e governamental do Hamas em Gaza”, com algumas possibilidades abertas para o objetivo político, que só poderá ser analisado anos depois de seu término. É fundamental entender que o objetivo militar é meio e que o político é fim, como exemplo eliminar os nazistas (militar) deu a possibilidade de atingir a finalidade política, que era democratizar novamente o país. Enfim, é necessário que se entenda a diferença entre as metas, o que não está em destaque o suficiente na mídia.

Essa compreensão é o que pode fazer a Guerra das Espadas de Ferro (2023) diferente das operações como Escudo Defensivo (2002), Arco-Íris (2004), Chuvas de Verão (2006), Chumbo Fundido (2008-2009), Pilar de Defesa (2012), Margem Protetora (2014) e Guardião das Muralhas (2021); e, por fim, eliminar o Hamas?

Sem dúvida! Mas veja, a grande diferença entre a Guerra dos Seis Dias e a do Yom Kipur foi o entendimento da liderança egípcia de que não é possível vencer Israel militarmente e, portanto, a paz é a melhor opção.

No entanto, esta não é a única opção. Um corredor humanitário para esvaziar Gaza é também uma alternativa assombrosa, que separa famílias e povos, porém, não é impossível. Os críticos dizem que não é possível remover dois milhões de pessoas de suas casas, mas a história mostra algo diferente. A partição da Índia (1947) levou 10-15 milhões de pessoas a abandonarem suas casas, expulsão de 12-14 milhões de alemães étnicos na Segunda Guerra Mundial e as deportações stalinistas servem como exemplos. A maior diferença com os últimos casos é que hoje a intenção é melhorar a vida de ambos os povos, e se bem executado resultará em algo melhor do que a partição da Índia.

Neste sentido, líderes palestinos moderados devem escolher o sonho de um país independente; e de preferência democrático, liberal e em paz com seus vizinhos ou uma alternativa de serem distribuídos em vários países, rompendo com laços familiares, eliminando por completo a possibilidade do pais palestino independente. A prova da culpa e fracasso do Hamas no âmbito estratégico é que jamais estaríamos tendo este debate se não fossem suas atrocidades.

O momento exige diálogo para descobrir se tal liderança entre os palestinos existe. Da mesma forma que Israel deve substituir o líder que apenas serviu para a manutenção de um status-quo indefinido e insustentável, por alguém que seja capaz de tirar estes povos deste inferno para uma resolução definitiva e melhor para ambos. Vencer do Hamas é apenas o meio, mas não o fim.

Daniel R. Schnaider – veterano da 8200 – Unidade de Inteligência de Elite de Israel, desvenda as complexidades da geopolítica e das políticas públicas por meio da estrutura analítica dos sistemas dinâmicos. Como um especialista reconhecido em otimização da cadeia de suprimentos impulsionada pela IA, ele traz uma perspectiva multifacetada para assuntos globais.

*este artigo não reflete a opinião da Agência Jamaxi

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