Manaus (AM) – Na Região Norte, especificamente no estado do Amazonas, empreendedores têm inovado no segmento de alimentos e mostrado como a ciência e a tecnologia pode ser uma forte aliada para soluções biotecnológicas sustentáveis para a agricultura na Amazônia. Desenvolvido pelas startups Pastifício Baré e Biofábricas Ananas, as empresas apoiadas pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) têm produzido macarrões veganos com sabores amazônicos e desenvolvido mudas de bananas micropropagadas, que são plantas clonadas em laboratório, usando a técnica de cultura de tecidos vegetais, respectivamente.
Em Manaus, a Pastifício Baré, sob o comando do empreendedor Júlio Sá, tem trazido um novo conceito para gastronomia amazonense, com massas de macarrão, utilizando insumos da Amazônia, a partir de frutos como açaí e tucumã. Para ele pensar nas massas amazônicas não foi tão difícil. A inspiração veio naturalmente pela Amazônia ser um território de encantos, beleza e potência.

Segundo Júlio, mais do que oferecer massa, a startup buscou posicionar a marca dentro de uma agenda consciente, onde comer bem também significa cuidar do corpo, valorizar o território e proteger a floresta de forma ética, sustentável e inovadora, valorizando a cadeia local, os produtores da região e os sabores que fazem da Amazônia um lugar único no mundo.

“Os dados de saúde pública nos chamaram à responsabilidade: três cidades da região Norte lideram o ranking nacional de sobrepeso e obesidade, segundo o Ministério da Saúde. Isso não podia passar despercebido. Foi aí que decidimos contribuir com uma nova proposta de alimentação mais leve, consciente e conectada com a floresta”, acrescentou.
As massas produzidas em talharim, em formato de fita ou tira, são veganas, sem glúten e lactose, além de possuírem zero gordura trans, e o melhor sem abrir mão da experiência sensorial única que a Amazônia pode oferecer.
“Nosso foco inicial é consolidar a presença na região Norte, fortalecendo parcerias locais e ampliando o acesso a alimentos mais saudáveis, inclusivos e com identidade amazônica. Acreditamos que antes de conquistar o Brasil, precisamos honrar e servir bem nosso território de origem”, frisou Júlio.

A Pastifício Baré atua no modelo B2B (Business to Business), com foco em parcerias estratégicas com pontos de venda que valorizam a alimentação saudável, o impacto positivo e a bioeconomia amazônica. Atualmente, os macarrões amazônicos estão presentes em redes e estabelecimentos selecionados, distribuídos em mais de 15 lojas, em Manaus, e também em expansão, com negociações em andamento, em Roraima (RR), Pará (PA) e Acre (AC), Rio de Janeiro e São Paulo.
Soluções biotecnológicas sustentáveis
Com o objetivo de oferecer soluções biotecnológicas sustentáveis para a agricultura na Amazônia, a Biofábricas Ananas nasceu, em 2021, motivada a enfrentar o desafio da baixa qualidade genética das mudas tradicionais e a escassez de fontes confiáveis para o plantio da banana, especialmente entre pequenos produtores. A empresa viu na biotecnologia uma ferramenta estratégica para promover produtividade, sanidade vegetal e segurança alimentar, valorizando espécies adaptadas à realidade amazônica.
Comandada pela doutora em Biotecnologia Vegetal e Bioprocessos, Simone da Silva, a startup trabalha com a micropropagação de mudas, em laboratório, garantindo alto padrão fitossanitário. A produção envolve etapas como seleção de matrizes, multiplicação in vitro, aclimatização em viveiros e entrega das mudas prontas para o plantio.
A atuação tem sido feita tanto com venda direta ao produtor rural, quanto com fornecimento para viveiristas, que realizam a aclimatização final das mudas em suas estruturas. Dessa forma, atendem diferentes perfis de clientes e ampliam o alcance das soluções no mercado agrícola regional.
Simone explica que a banana é uma das culturas mais importantes da região, tanto para alimentação quanto para geração de renda. No entanto, muitos plantios enfrentam doenças graves como o mal-do-panamá e a sigatoka-negra.
“O uso da micropropagação permite produzir mudas livres de patógenos, com alta uniformidade genética e vigor. Optamos por essa cultura devido à alta demanda por plantas saudáveis e adaptadas, o que contribui para reduzir o uso de defensivos e aumentar a produtividade de forma sustentável”, explicou.

A comercialização ocorre, principalmente, sob encomenda, o que permite rastreabilidade e planejamento conjunto com o produtor. A logística de entrega é adaptada conforme a demanda e localização.
Sobre as perspectivas para o futuro da startup, a empreendedora afirma que a empresa está focada em ampliar a capacidade produtiva e diversificar o portfólio de espécies estratégicas da Amazônia.



Apoio para impulsionar negócios
Para o empreendedor Júlio da Pastifício Baré é um orgulho poder contar com a parceria de instituições que acreditam no potencial transformador da bioeconomia amazônica.
“Somos parceiros do Sebrae, por meio do programa Sebraetec, que nos apoia em projetos de inovação e melhoria contínua. Também tivemos a honra de participar do Empretec, uma imersão que foi um divisor de águas na nossa consciência empreendedora e financeira. Ali, amadurecemos nossa visão de negócio e reafirmamos nosso propósito” comentou.
A startup também recebeu fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa Inova Amazônia-Módulo, parceria firmada com o Sebrae.
“Hoje, somos uma startup mais madura, estratégica e determinada. Carregamos com orgulho o compromisso de mostrar ao Brasil e ao mundo que o Norte existe e ele é lindo”, enalteceu.
A Biofábricas Ananas, incubada no Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide), recebe apoio do Sebrae-AM em ações de formação empreendedora, modelagem de negócios e acesso ao mercado. Além disso, conta com o apoio da Fapeam, por meio de editais como o Tecnova III, Inova Amazônia-Módulo Tração, e também com o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), via Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio).
“Essas iniciativas têm sido fundamentais para fortalecer nossa atuação no ecossistema de inovação da Amazônia e ampliar o impacto do nosso trabalho” comentou Simone.
Manaus x Bioeconomia
Segundo dados do Sebrae Amazonas, a cidade de Manaus e municípios próximos têm mostrado crescimento e potencial no estado em negócios voltados para temática da biodiversidade da Amazônia e bioeconomia, como produtos naturais, cosméticos e medicamentos.
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